domingo, 12 de abril de 2009

Batismo na Praça


Baile no Clube. Não fui.
Estava me sentindo velha e sem graça, com a roupa que peguei emprestada da minha mãe... é, as minhas não estão mais lá, no interior. A saia era linda. Estava frio. Os amigos apareceram na porta da entrada do baile, alguns que conhecemos. As outras pessoas eram crianças que víamos quando éramos adolescentes. Estavam bêbados e falavam como se a vida fosse acabar naquela noite e eles tivessem que aproveitar. Vou pegar tantas... essa festa só tem baranga... lá dentro tá muito quente, etc, etc.
Cansativo.
Não tenho mais idade. 27 é quase 30. Já é 30. Mas com corpinho de 20. Será que alguém ia reparar?
Bem, após encontrar o ex gato que está um pouco estranho e sem queixo, pescoçudo, o guia turístico e bater foto com o irmão caçula do colega de sala, vejo que alguém me olha. Alguém meio descabelado, cabelo escuro, gato, muuuito gatinho.
Achei que era uma das crianças que mencionei antes, fiquei com receio. Quem será?
Fomos sentar, eu e meu amigo, no banco ao lado do moço.
O amigo do moço senta ao nosso lado, muito simpático. Puxa papo: Kubrick, Estamira, faculdades, repúblicas, histórias de vida.
Os amigos saíram, entraram no baile. Ele, o gato novinho, fala com uma amiga. Que raiva, ela deve ser mais nova. E estava de havaianas... não deve ter pego a roupa da mãe.
Gato volta. Senta do meu lado. Mais conversa. Ele sabe quem é Pagu. Gostei! Bom caminho. Um outro passante conhecido se aproxima e diz que o baile só tem mulher feia. O gato chama sua atenção. Não fale assim. Pagu. Me sinto Pagu, "indignada no palanque". Eu posso, ele ficou. Não quis o baile, quis a conversa.
Faz um frio irritante. Ele chega juntinho. Eu tenho o mamilo dolorido de frio e vontade de mijar. Vamos? Me acompanham até ali? Claro!
No caminho, vou pensando: já fiz ménage, já transei com mulher, saio com ex namorados. Ele não sabe. Será que gostaria? Será que fugiria? Não importa. Esta noite é da Pagu. “Não sou freira nem sou puta”.
Alívio. Agora já pode rolar. Tchau amigo! "Boa noite e boa sorte"!
Beijo. Trêmulo. Sob a luz. Entre as pessoas. Aqui não, muita luz, não?
Beijo, mãos, frio se transformando em calor e tremores em tesão.
Terceiro ponto: praça. Escura. Escondidos. Plenamente adolescentes. Ele é mesmo, eu não! Mas nesse momento sou, sou Pagu. Eu posso e hoje a noite e o pedaço são nossos.
Mãos, línguas, respiração, cabelos, cheiros, vozes, desespero. Muito gostoso. Sinto a mão invadindo, invado também. Loucos. Adolescentes inconseqüentes.
Vou gozar... Goza. Me afastei... a saia era da minha mãe, lembrei. Gozou muito. Lindo. Tranqüilo. Adolescente, delicioso.
Beijos, colocar as coisas em ordem, cabelo, roupa, olho borrado. Estamos lindos. Felizes. E eu, deliciosamente com 27. Ele, com muitos a menos.
Me acompanha até em casa. Obrigada. Me procura naquele site, ok? Ok.
Voltei do interior, checo meus emails. Adorável surpresa: Oi! Te achei. Quer ser minha amiga?
Sim.

2 comentários:

  1. Lendo este conto real fictício, sinto-me junto acompanhando cada respiração e pulsação de sangue correndo pelas veias de dois adolescentes descobrindo as belezas de se relacionar. Excitante, poético, cheiroso, saboroso e quente numa noite de frio e não fria. Adorável surpresa, surpresa adorável!!!

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  2. CLÍMAX: "Mãos, línguas, respiração, cabelos, cheiros, vozes, desespero. Muito gostoso. Sinto a mão invadindo, invado também. Loucos. Adolescentes inconseqüentes.
    Vou gozar... Goza. Me afastei..."

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